domingo, 2 de janeiro de 2011

LIBERDADE PARA O CAOS

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violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

EDITORAÇÃO, IMPRESSÃO E ACABAMENTO:
Editora Catacumbas
___________________________________________________________________________________
Oliveira, Isaías Andrade de.
Liberdade para o caos/ Isaías Andrade de Oliveira. - Salvador : Editora Catacumbas
2010.
104 p.
ISBN 978-85-99768-61-7
1. Poeisa 2. Autor. I. Título.
CDU - 308
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LIBERDADE PARA O CAOS

Do autor pros leitores

Na infância não via graça em escrever, aquele jogo de fonemas representados de modo gráfico pouco me atraiam, não conseguia ver verdade entre as palavras e seus significados, aquilo não me interessava, mais tarde, observando o caos entre as pessoas e sua classe e entre classes; descobri no jogo de sinais fonéticos, uma forma de provocar, a mim mesmo e a outros um modo de vida menos acovardado.
Nasci no interior deste belo pais chamado Brasil, nação guerreira de gente mestiça, que foi assaltada quando se encontrava no primeiro suspiro da sua cultura, mas sobreviveu aos malditos vinte e um anos de ditadura militar; aquilo já ficou para trás, hoje nosso Brasil engatinha, buscando aprumar seus primeiros passos rumo à soberana política, artística, religiosa e filosófica, o conjunto de poemas a seguir pretende expor o que disto tenho sentido.
Entre janeiro de dois mil e sete e janeiro de dois mil e oito, ocorreu-me uma nova idéia poética, já havia antes escrito poemas; mas, jamais, em uma sequencia, tipo a analise humana que este conjunto de poesia possa refletir. Em janeiro de mil novecentos e noventa e sete, surpreendeu-me um titulo, no qual venho trabalhado meus poemas nos últimos anos "Liberdade para o Caos”, varias interrogações circundaram e ainda circundam minha cabeça, "como posso pensa-me poeta em meio a tantos e tão geniais", em busca pra melhor forma de enfileirar a exposição destas, e tantas outras respostas tenho caminhado, parado, naufragado, navegado, sonhado às vezes até acordado; procurando, a mais correta maneira de expor a necessidade de hábitos artísticos humanitários.
Nesta procura angustiante pela afirmação de palavras do dialeto popular ao léxico, esbarrei num neologismo “analafabetização” palavra criada pra definir o prossesso educacional do perioldo do regime militar no Brasil, ou seja, uma alfabetização desléxica, propositadamente feita pra desorientar, feita pra não ser feita, feita de trás para frente, o “armengar” do sentido, contrario ao despertar da percepção, o domínio do conhecimento, visto que, quem domina algum conhecimento resiste a ser dominado, e é disto e nada mais que venho tratar aqui.
Zahia

O Caos para a Liberdade.

É inusitado o poético deste trabalho do poeta Zahia que propõe
mensagem libertaria. As palavras aproximam-se para moldarem
contraditórios versos, que se aproximam da Liberdade para o
Caos, procura utópica camuflada nas entrelinhas dos versos do poeta.
Poesia densa, de mau humor com a vida contemporânea, quando
esta se mostra consumista, mentirosa, hipócrita, falsa.
O mais importante nesse trabalho é ouvir, ler, sentir, entender o
poeta, com isenção de valores moralistas, para perceber a
Liberdade para o Caos, ou melhor, o seu sentido, Caos é Liberdade,
Liberdade é o Caos.

Por Birinho do Riacho

LIBERDADE PARA O CAOS 08

O futuro, não existe; o passado, já passou. Vamos viver o presente!

ZAHIA 09

Amizade e ferramenta, não se deixa àtoa.

LIBERDADE PARA O CAOS 10

O animal mais traiçoeiro que existe, é o leite; deu as costas, ele derrama.

ZAHIA 11

Pessoas são pessoas
Deuses ou demônios
pessoas são as mesmas
Eterna mutação
Pessoas são amigas
Lunares ou solares
Pessoas controláveis nos comas sociais.

LIBERDADE PARA O CAOS 12

O holocausto de Canudos, a degola do cangaço e; os dias e noites turvos pela ditadura, são traumas primitivos, causados pelo estado, ao povo brasileiro.

ZAHIA 13

Em tempos de guerra todo o amor do mundo é pouco,
e a guerra nada mais é do que um vagão no trem da paz.
O amor
É um sim
É um não
É um buquê
É o pecado é o perdão
É uma flor
Que só brota no coração
Inocente
Poeta bom
É poeta
Vivo
Mas
Não suje sua consciência pensando
Derramar meu sangue.

LIBERDADE PARA O CAOS 14

Liberdade para o caos
Quando quis ser livre
Tornei-me poeta
Por já ter pai
Uma gota de espírito
Que fecunda uma mãe
De fecundo a feto
Crescimento
Pro toque poético
Liberdade é vir ao mundo
O caos
É todo o resto

ZAHIA 15

Somos
Fomos
O sétimo ano do novo milênio
Os petês petís
Ocupam cargos na Bahia
Anuncia o New York Times
Washington envia ao Irã
Mini bombas nucleares
Via as coxas da judia
05/01/2007 13:10h
Agonizam pefelistas do demo
Cotovelando o Estado
Para manter-se com algum poder
Na lavagem do Bom Fim
Invadem a igreja
Enchem o saco do santo
Hugo Chaves chama
Reacende a chama Ameríndia
Na America do Sul
16/01/2007 17:06h
Nos iguais nas nossas diferenças
Diferente nas nossas igualdades
Vulneráveis quando criamos inimigos
17/01/2007 01:57h

LIBERDADE PARA O CAOS 16

Pia monte violência nos grotões

As sepace
Caatinga
Caesa
Tudo a mesma coisa
Criada contra a paz
Degolaram um jovem na frente do pai
Defronte a viatura
Numa madrugada fria na vila feliz
Ou seria miséria
Jacobina chora calada
Clamando clemência ao senhor do Bom Fim
Governos deslumbrados com o governar
Ignora
Indiferente a todos nos
O ingênuo chama a ONU

ZAHIA 17

A capa cobre o homem
Mas não cobre sua sorte
A capa da hipocrisia
Não lhe defende da morte
A puta não sai de dia
O povo consulta a puta
E tome-lhe poesia.

ZAHIA 18

Autoridade
Pra que tanta vaidade
Ato idade
Senso de comunidade
Autoridade
Deixe-nos mais a vontade
Autoridade
Por onde anda a verdade
Autoridade
Veja
Felicidade
Autoridade
Abuso só traz mortandade
Autoridade
Não nos imponha sua falsa farda maldade
Autoridade
Autorize
Liberdade
Autoridade na verdade
É garantir na velhice
Ter quem cuide de você
Autoridade.

LIBERDADE PARA O CAOS 19

Oi lá Alá
Oi lá além
Em cruzada
Ao médio oriente
O dono do mundo
Quis repartir
Jerusalém
Oi lá aquém a Venesuela resgata
Oi lá Jeová, Jha, Buda, Oxalá...
Washington visitou São Paulo
Febre amarela dores de cabeça sem morfína
Icterícia gripe suína.
Mãe preta invoca
banho de pipoca
A tô to a tô tô Omolu Baluaê.

ZAHIA 20

Finados
Minam lagrimas
Nos olhos d’água da paróquia
Sino toca no alto da torre
Durante longas vespertinas horas
Chama os compadecidos
Com a perda do ente querido
Vem
Vem
Vem
Logo após
Anunciar o vasto caminho do corpo
Rerquiescat in pace
Vai
Vai
Vai
Reflita luz
Paz aos que ficam
Por ter sido um ser
Que sempre esteve do lado de Deus.

LIBERDADE PARA O CAOS 21

In memória de Euclides da Cunha

O sertanejo antes de mais nada é um fraco
Afrouxa engabela-se com facilidade
sua condição miserável
fecundada nas primeiras décadas de colonização
submete ate hoje ao ordinário salário
imagine o sertão independente
ele diz
não
não
não vai dar não
Conselheiro o vigário dos canudos
tentou
tentou
virou turrão
Virgulino Ferreira o vaqueiro
A cabeça foi pra feira
O corpo ficou no chão
Lizinho o fio de Januario
Pediu que não desse esmolas
O povo estendeu a mão
Mais de meio milênio passado
pra que se crie essa espécie
Mas no findar da novena
Se toca
Um pandeiro
Um triângulo
Uma zabumba
Uma sanfona
Uma viola
Um violão
A filha de um dos músicos fala mascando chicletes
Ninguém merece
Ai fica a questão
De quem é que é a culpa
Da tala televisão
Ou de sua prima internet
Da escola sem arte educação
Da má condução da fé
Da família pervertida em vícios capitais
Da ciência inascível insensível
Da política dos três patetas
Da filosofia intocada incompleta
Da poesia ignorada
Ou daquela gente safada
Que ontem fez o dia de hoje
Muito muito mais inseguro.

ZAHIA 22
filhos do cais e outros filhos da...
Tendencias do mal do novo seculo, metade da noite pessoas estranhas passam por detraz de maquinas enfurecidos, frustrados, acorrentados a solidão da tela ipinotica de um computador; eles, os donos das maquinas de fazer dinheiro, gozam a cada clik, satisfazendo a frigidez pessoal; substituindo na sala de um piscanalista neurotico, psicoses por neurozes apenas, aliviando suas esterias num momento unico que lhes permite a satisfação de se imaginar ser o menino que pula no mar com a liberdade dos filhos do cais, logo o sonho vire realidade num estalar de dedos do psicanalista, levanta-se do divan, saca um maço de dolares de sua carteira feita com o couro do crocodilo gigante que habita o rio Nilo, paga o atendimento, atravessa a sala num passo arrogante sob um silencio vergonhoso; No estacionamento diante de seu carrão bacana, indiferente aos transeuntes, escorre-lhe no rosto uma lagrima sem sentido, no horizonte um menino salta do cais no infinito do mar.

LIBERDADE PARA O CAOS 23

SOTEROPOLIS@RROMBA.COM.BR
em tempos de internet, inteusate
guardo no quarto frio as fichas que
apostei num sozinho chiado ressoado
da antiga radíola Philip marca registrada pelo seu ph
de farmácia recriando uma overdose inspirada na punheta
batida na tensão das grossas coxas de
Baybe Consuelo
que já é do Brasil na esperança de despertar solo ciumento
da guitarra de Pepeu ciúme metralhado pelo suingue de
Morais cheio de moral Moreira Aarmandinho pombo
correio pagando em cheque a pintura esquizofrênica de
C.Matos , Chico Liberato pintando outros sertões
desvendados por Alvinho do Riacho
retomando a farmácia que tem na lista de genérico BO
anti-depressivo desenvolvido aparti do DNA de cangaceiros
numa foda elevada ao quadrado
com ph de farmácia
dois oo’s de cooperativa
dois dd’s de toddy
dois aa’s de caatinga
recordando assaltos benéficos crimes ideológicos
mantendo as idéias da baiana serra Maéstra
imaginários chapéus e alparcatas de couro
trocados por meias de náilon sob influencia de filmes
americanizados rodado na sessão da tarde de um domingo
qualquer continua escravidão na sede da fazenda do no
tizinho cabeça branca
protesto é ofuscado por projetos inexatos
falido assistencialismo
promovido por uma imprensa submissa amordaçada
servindo apenas pra mostra de uma forma carismática a
linda vista do elevador Lacerda Farol da Barra Rio
Vermelho Pelourinho atraindo turistas estranhos pros
braços de putas travestis que em madrugadas frias são
obrigados a nadarem na baia de Todos Os Santos por
gambés FDP’s frustrados nas suas fissuras de pó ordens
inventadas autorizadas não oficialmente pra atirar em
quem ver acertar em quem não ver desde que após o
estrondar da espoleta tenha um corpo caído no chão
-elemento não identificado cara de pobre mal vestido coisa
de policia porem subtraindo o pó do licia e adicionando a
este a silaba mi obtém se milícia que não é marca de
sandália mas ficou famosa depois da chacina da Candelária
e por aqui tem executado na Ribeira Mussurunga Estrada
Velha do Aeroporto Pau Miúdo Bairro da Paz e passam
despercebido nas minúsculas paginas policiais ocupadas
com algum burguesinho branquinho bebadozinho que
aparece o resto da semana nas manchetes dos jornais.
Janeiro de 2000 revisado em
setembro de 2009

LIBERDADE PARA O CAOS 24

Trepada porretica

No impacto da agulha sobre o vinil
De Gilberto ou de Gil
Em tempos de TV de plasma
Onde se pode ver
As panorâmicas de John Ford
Uma abertura cinematográfica para o oeste yankee
Começo acumula palavras
Donde tento retirar esperanças
Pra resolver problemas de
Descontentamento existencial
Que cercam este papel
Procurando esclarecer a cor
Da tinta da lata vermelha
Que pode ser amarela
Na visão de um menino fecundado
Após uma trepada anal gozada fora
Porra loquice escorrida
Pra buceta de uma putinha qualquer.

LIBERDADE PARA O CAOS 25

Numa viagem a poesia

Quando sai de casa pela primeira vez levava uma mala
vazia na mão e no peito o medo do desconhecido
Sai apressado demais para perceber que sofria
E que ao sair alguém sofria por mim também
Sorrir destemperadamente pela janela do ônibus não
diminuiria minha angustia
Rabisquei no verso do papel que guardava o endereço para
onde iria três palavras medo solidão alegria
Somei milimetricamente o tempo perdido a formula de um
perfume que tem fragrância de leite estragado
Donde havia subtraído a massa da talhada de melancia
esquecida ao lado do criado mudo ouvindo
Pacientemente o tic-tac continuo do relógio de pendulo
multiplicado pela multa de transito que uma guarda me
deu após elogiar suas orelhas em pleno engarrafamento
Na Avenida Paulista neste momento encontravam-se juntos
os ponteiros da catedral de Londres marcando doze horas
em ponto por falência ou descaso não cumpri com o
compromisso e depois de um dia de chuva comi chouriça de
porco importada do México sem temer uma nova gripe
observando o banho saliente de biquínis coloridos
adentrados ate o ultimo gral entre largas ancas e nádegas
montanhosas quando fui interrompido por um garçom que
falava me do tempo e desejava saber o que vem a ser caos
despertando minha atenção pro vazio de meus olhos
refletidos na sua bandeja inox que com carreiras do braço
fez comedores de chocolate optarem por engenharia
química na ânsia de saciarem as maravilhas do mundo da
alquimia.
Escrevi para meu pai
Perguntei-lhe pela rosa
As vacas tinham dado cria
Bezerrinhas tinham nascido
Falou-me de minha mãe
E do meu irmão mais velho
Trabalha no ministério
É orgulho da família
Tinha se acertado na vida
Não era de anarquia
Nasceu com o caminho traçado
Não suporta poesia.
Janeiro de 2000

ZAHIA 26

Arataca social
Pegou
Mentira
Contida
Entre inomináveis
Idiotas

Foram
Criticados
Por
Graciliano
E ele
Era
Dos
Ramos
Entenda
Ouça
Gemidos
Subordinadores
Dos
Homens
Donos
Dos
Bens.

LIBERDADE PARA O CAOS 27

Soneto da fome global

Acordam crianças indianas
Obrigadas a jejuar
A fé que pouco conheçem
A maquina de fazer dinheiro
Não para
Crianças das Américas
Tentam dormir
Enganando a fome.

ZAHIA 28

Pra ninguém zombar de mim
Hoje exala do chão
Fertilidade
Hoje por mais espaçada
Que pareça para uns
A chuva chega com redenção
apesar disso
usuráveis produtores e distribuidores de grãos dizem
Feijão viro comida de burguês
Custa tantos reais
Vejam só vocês
Agora não me entalo
Na lentilha
Grão de bico
Me embalo
Tiro é onda de rico.

LIBERDADE PARA O CAOS 29

Se você
Investe em agronegócio
E sonha com a salvação do ozônio
Pelos bicombustíveis
Cuidado
Seu carrão
Pode ta na mira de um faminto.

ZAHIA 30

Juá-zero
Nas lembranças das andanças
Gado morto na beira do asfalto
Crianças desnutridas correm pelo chão
Restos de molambos lhes cobre os sexos
Não desejo cantar desgraças
Menos ainda escarrar minhas
angustias em vossos pés
Pelo amor ao silencio vamos fazer barulho.

Juazeiro minha Bahia
Tão perto do Pernambuco
Águas do Chico velho
Pai do povo ribeirinho
Rega nova bonança
Transpõem com fé o mal pra longe
Lavrador num cubículo
Sonha
Agronegócio ruindo
Roga à senhora das grotas
-Não deixes vir pragas ao mundo
Juazeiro minha Bahia
Tão perto do Pernambuco
Não se percam poetas
Em pecados capitais
Voltem
Retomem praças
Reciclando o homem bicho
Ampliando percepções
Reerguendo a poesia
Admirada pelo velho mundo
Juazeiro minha Bahia
Tão perto do Pernambuco
Tua benevolência
Enlaça a convivência
Não entre nessa tendência
De morar em apartamento
O apartamento aparta
Esse teu calor humano
Das noites de São João
Carnaval
Penitentes outros mais
Juazeiro minha Bahia
Tão perto de Pernambuco
Tuas lendas não se apagam
Tua criança quer poesia
Juazeiro minha Bahia
Tão perto de Pernambuco
Afasta quem te alicia.
Juazeiro minha Bahia.

LIBERDADE PARA O CAOS 31

Encruzilhada do sertão
O que se fala
O que se cala
Em Feira de Santana
Quem La dispara
Que desentala
A Feira de Santana
Como se passa
O que amassa
Ó Feira de Santana
Como é teu dia
Quem faz poesia
Quem ti assovia
Feira de Santana
Também teu povo
Pede socorro Feira de Santana.

ZAHIA 32

Meio metro
Pra Jacobina
Ah Jacobina
Meu mérito
Jacobina
Ainda ronca concertina
Entre as grotas chão incerto
E na missão as meninas
Ainda empinam seus gestos
Ah Jacobina meu mérito
Mei metro pra
Jacobina
Em Jacobina
Um metro cúbico de ouro
Sai voando ao som de pic e é floide
A rota torta da nave
Feia feito libelo
Admirada do chão
Pelo olhar do pião
Sem sonho sem pão sem vela.

LIBERDADE PARA O CAOS 33

Um poeta, Mangaba

Na graça do Garcia
Samba
Cerveja
Cachaça
Poesia
No campo grande uma bola
No teatro alguém faz historia
Corro pelo corredor da vitoria
No porto da barra
Por do sol
Outros risos.

ZAHIA 34

Cotidiano cachoeirano
Panfletada
Abrem-se as vendas
Cachoeira desperta
Da embriagues da noite passada
Cazumbá faz publicidade
Repete
Reverbera
Recados
No ar
Seguindo a voz da prima vera
Elias Cardoso
Enquanto a palavra pousa
Na mira
De um canhão.

LIBERDADE PARA O CAOS 35

Cotidiano cachoeirano II

Toda caridade
Mantida em silencio
Eleva de grãos menores
Grandes mestres
Combatentes
Sempre
Em toda parte
Os três mais cruéis assassinos
A ignorância
A intolerância
A tirania.

ZAHIA 36

Cotidiano cachoeirano III

A capela soa
Chama os fieis
Enquanto
Que os infiéis
Discutem política
Cobiçam as saias
No bar de papel.


LIBERDADE PARA O CAOS 37

Cotidiano cachoeirano IV

Alaranjado arrebol
Na cachoeira
Pernas atiçadas
Transpiram levadas pelos pés à levada
La pimentas levadas
Brincam tranqüilas
Lavando os sexos
Molhados sexos
Em chamas os sexos
Por trais das moitas.

ZAHIA 38

Moqueca de camarão à baiana

O canto do olho brilha pisca
A vontade de amar abre-se
O coração pula peixe na isca
A flor cheirada desabrocha-se
A perna treme adolescente
E pelo olho entra lentamente
Na alma um largo fundo riso
O toque a mão mais leve pousa
O voou dos desejos cousa
Paixão efervescente sorriso
Moqueca de camarão à baiana
Solta a energia profano
Pimenta coco dendê
tu sabe
A língua lambe o ventre cabe.

LIBERDADE PARA O CAOS 39

Cotidiano sanfelista
Ir na pedra rachada
Não contenta-se
Com o domingo no Faustão
Rir da cara do fofoqueiro
Escutar o louco com sinceridade
Sorrir sereno ouvindo deus.

ZAHIA 40

O nego d’agua do rio da mangueira

Anália e Tia Anja eram as lavadeiras mais antigas da Saúde,
sempre ao raiar do dia, enormes trouxas na cabeça,
roupas do sinhozinho, da sinhazinha, seguiam pelo caminho
do rego na frente a esquerda estreita vereda, passavam
arame, enfrentavam boi brabo, vaca parida desciam e
subiam íngreme ladeira pra finalmente alcançar o rio da
mangueira; onde, imóvel esperavam-lhes sua pedras
prediletas marcadas pelos anos de uso molhar, ensaboar,
esfregar, bater, torcer, quara, enxaguar ... esse ritmo só era
quebrado quando molecotes resolviam se banhar, elas ai
interrompiam os cânticos e vinham aos gritos, reclamações
quase sempre a meninada corria e só voltava após as duas
terem ido embora. Um belo dia,ambas desceram com suas
trouxas pra lavar , chegando lá, se depararam com um
molecote negro, sentado em uma das costumeiras pedras,
pelado, de costas pra elas e com um chapéu na cabeça;
exclamou Analia: é o nego d’agua!
Interrogou Tia Anja: será se é macho ou fema?
o molecote se virou pras duas balançando agigantado
badalo e dizendo: será se é macho ou fema,será se é macho
ou fema...
as duas partiram na carreira ele caiu nas claras águas do
rio da mangueira não voltando a ser visto ate o dia de
ontem.

LIBERDADE PARA O CAOS 41

Sob o sol.

Slvorecer...
Sobre a serra da Santa Cruz, neblina
O vento frio se espalha,
Engana os desprevenidos,
Fim de inverno.
Na carpintaria, desde as três da manhã;
Meu velho pai debruçado sobre o ofício,
Garante aos filhos o pão nosso de cada dia,
São muitas bocas e os braços ainda infantis.
Chegada a hora da escola,
Saio com isto mim atormentando a cachola,
Ao retornar;
Encontro-o sob o sol escaldante do meio-dia,
Do pé do fogão minha mãe diz:
- Chame seu pai Zaia!

LIBERDADE PARA O CAOS 42

A minha rebeldia, Becau.
paz...
paz meu rapaz
a muito já não sei mais o que é
antes de pisar em vossa terra
não conhecia a violência da policia
os demonhos das horas mortas
nem os medos da fome e da solidão
sexa feira
estive na igreja acendendo uma vela pro Senhor do Bonfim
olhar por mim e por todos
Oxalá e pai
Oxosse é casador
Ogum é tecnologia
acho que é hora de dispensar as esmolas e retomar ...
o que é de direito.

ZAHIA 43

paz na terra aos homens de... coragem!

na casa de pessoas estranhas
no estomago do mundo
sob os pés da montanha
vago tipico vagabundo
na minha terra natal
fui proibido de volta
lá um frustrado coronel
deu ordem pra mim matar
só a poesis me salva
com ela vejo esperança
sinto-me livre na selva
talqual uma arvore
mas o louco coronel
com seu frigido riso de marmore
mira-me tendo na mão um motor serra!

LIBERDADE PARA O CAOS 44

poetas, sôis as antenas de Deus aqui na terra!

poeta,
"porra niuma, é tudo"
marginal,
subversivo,
vagabundo,
cachaceiro,
delinqüente,
preguiçoso,
maconheiro,
ladrão,
mendigo...
da sacada fala a professora:
-liga não
dixa esta...
algum dia
eles voltaram
pra ver que, sôis poeta; as antenas de Deus, aqui na terra!

ZAHIA 45

...desculpem minha tristeza, mas hoje alguém optou por mudar de mundo.

a cidade sem cidadania...
discrimina o cidadão,
marginaliza a criança,
oprime o idoso,
enlouquecê pisques desavizadas,
viços e vicios
alcoolismo,
cocaína,
depressões,
ante-depressivos,
ela,
a cidade;
acaba de matar uma grande mulher.

ZAHIA 46

não vá só chorar ...sorrir tambem faz bem!

Mais da metade das pessoas do mundo neste momento estão fazendo coisas que não podiam ou deviam fazer mais fazem simplesmente por estarem se deixando (conciente ou inconcientemente) induzir; não tenho muito tempo,sei disso, e sei tambem que os maus contolam tudo, por meios de modelos de neo-liberalismos, globalizações...o dinheiro, o conhecimento, ate o amor tem sido usado como mecanismo de dominação, ou se esta contra isso ou se é parte disso! o radicalismo de Lampião lutava contra os filhos da besta, os ditos coroneis, ate hoje pro desengano libertario eles envadem nossas casas, usando seus trasmissores hiperpotentes, suas antenas,seus satelites, suas gerigonças e, nos fazem apaixonados por seu modo de vida, suas roupas, suas musicas, seus sei lá o que porra...E enquanto perdemos tempo na fila dos "chópinquis" eles invadem nossas florestas, pirateiam nossa biodivesidade, prostituem nossas crianças...A essa altura no farol, fechamos o vidro do carro e chamamos maginal aquele engrachate, que tentava levar comida pra casa e foi vitima da chacina a semana passada; não,eu preciso, alguem precisa, você precisa ou fazemos ou fazemos,é fazer algo agora ou nossos filhos jamais serão pessoas melhores, e o mundo será sempre o mesmo.

LIBERDADE PARA O CAOS 47

torto riso

como pesa o fardo cotidiano
já não posso mais andar nesse ser-tão
seco
frio
distante
vazio
a responsa
servir de exemplo
dicipulos imaturos
os dias atordoam minha noite
os sonos aterrorizam os sonhos
a fé virando marola
um pontiar de viola
lembra:
'o pulso ainda...'

LIBERDADE PARA O CAOS 48

A chegada de tanga da trupe de Cabral

Numa caneca de café
Montaram três amarelos
Cabral Anchieta Caminha
Dois bodes e uma galinha
Trouxeram para comer
Muito vinho pra beber
Umas massas pra misturar
Em sua tripulação
Ladrões banidos assassinos
Pra uma nova nação formar
Deixaram-se seduzir
Aquele povo ameríndio
Por mastros longos bem vindos
Muitas velas a bailar
Aproximou-se sorrindo
A tripulação lusitana
Encantada pela mata
Outros pássaros a cantar
Trouxeram suas bugigangas
Um espelho três facas dois pentes
Quatorze escovas de dente
Cuecas pra agasalha
Tarados locos frustrados
Homens falsos ao corpo
Acalmando suas tensões
Abaixando seus tesões
Trocando de posições
Impondo a opressão
Surrupiando as riquezas
Implantando a pobreza
Catequizando e matando
Escravizando e roubando
Pra o Brasil procriar.
janeiro de 2000

LIBERDADE PARA O CAOS 49

Guardei datas em minha cabeça
O tempo
Mostrou
Desde que Cleópatra incendiou a primeira biblioteca
Verdade não existe
Na escola o professor disse
Pedro
Alves
Cabral
Com cara de vela
Cruz e fuzil
Bíblia e espada
Tesão e mais nada
Descobriu sob verde manto
O canto santo
Guarani
Tupiniquim
Tupinambá
Tupi
Seguro porto
Morreu de velho
Brasil surgiu
Surgiu Brasil
Cabral chegou
Sujou Brasil
Esse céu azul anil
Gonçalves a dias não via
Dobrado chicote
Castro Alves
Denuncia
Romantismo parado
Drummond Pessoa
Mario Bandeira Quintana de Andrade
Modernizam
Evoluindo o Brasil
Da casa grande a senzala
Os brasis são só festa
Getulio liga pra Hitler
Virgulino não viu Prestes
Lobato o petróleo é nosso
Vem o golpe militar
Nova bossa dita dura
Festivais contra censura
Grampos são estalados
Grava assiste
Bota pra fora um bocado
Esconde a cara acende a vela
Porque sujo por cá surgiu
Nesse meio tempo
Washington patenteou
Uns três quartos do Brasil
Sapo falou
E lá vem Bush
Rã respondeu
Oi Tony Ble
Oi Tony Ble
Antonio o poeta brasileiro
Acorde o conselheiro
O novo mundo sertão
Precisa de uns conselhos.

ZAHIA 50

O novo continua envelhecendo, ah há há... só a velha nova ordem mundial é imutavel.
Levantem poetas
Progresso não é riqueza
Mas
Qualidade de vida
Ordem só há sem fome
Washington ta nem ai
Derrete o solido
Ártico
Antártico
Tsunami
Furacão
Seca
Eruptiva
Terra treme viva
O sertão viraria deserto
Amazônia serrado
A nação FARC
Troca refém por paz
Washington quer cheira pó
Carbonizar o ar
No interior da limusine
“Champlain’
Cocaína
Enxofre
As previas do satanás
Em quanto isso
Falta comida na África
Nem só por isso
Um carneiro mulçumano é responsabilizado
Se alquém explode o cachorro quente de outrém no Central Park.

LIBERDADE PARA O CAOS 51

O mundo ta ‘mermo’ é doido
Palestino compra comida no Egito
A economia um caos
Califórnia pega fogo
São Paulo assiste na televisão
Policia roubar pó guarda em casa
Vender na calada
Mas disso quem quer saber
A Colômbia governista pede ao mundo
Aliados contra as FARC
Sonha em baixo do chuveiro
Enquanto isso
Por lá na faixa de gaza
Míssil queima feito brasa
Mas disso quem quer saber
Sonho em ficar velhinho
Fazer poesia pra idoso
Traduzir pra japonês
Vender em Okinawa
Mais isso quem quer saber
Agressiva diz a TV
Marginais confrontam
Policiais naturalmente respondem com bomba de gás
Inverdade do jornal
Trabalhador grevista tomou porrada
Todos viram ate você
Mas isso quem quer saber
Na Argentina gripe da porca suína
Na áfrica falta comida
Na França só paparazzo
Também senhora da guerra dona Inglaterra
Portugal veio ao Brasil
Dom João fez o banco pego o ouro e partiu
Mais isso quem quis saber
Já no século XXI
Washington com sua cobiça
Outro vírus icterícia isso e caso de policia
Agora só mais um A(h1n1)
Salvador que vais fazer
a-to-to a-to to omolu baluaê
Rê pa ba-ba ba-ba oxá oxalá.

ZAHIA 52

Rasga-se o ventre do mundo
Anunciando a fome
O crime toma corpo
Seguindo propósitos idéias capitalistas
Nas ruas cachorros cagam
Com pose de quem defeca das nuvens
Pivetes banham no chafariz
Com a alegria dos que desconhecem
O frio da noite
A esmola e o crak como meio de sobrevivência
O tempo passa
Cantarolam em arvores pássaros feridos
Vigiam o dia e aguardam
Velhinhos com migalhas de pão
O tororó brilha devolvendo as nuvens raios de sol
Vento fresco
Todos sorriem
Todos cantam
Todos dançam
Deixando calmamente o dia passar
nesse dia
Tolos blasfemam se mal dizendo
Nesse dia
crianças correm sob o olhar atento dos pais
nesse dia
nasce uma nova poesia
nesse dia
o crepúsculo cai de surpresa
pessoas sempre apressadas voltam pra casa
e tentam não esquecer esse dia.

LIBERDADE PARA O CAOS 53

Retrato três por quatro
Baseada em fábulas clericais
A burguesia leva sua vida
Emprego
Casa
Carro
Bar
Falsas amizades
Mulher oprimida prenda do lar
Respeito
Cartão de credito
Carinho
Celular
Mesada
Filhos
Hipócritas pregam o conhecimento como formula de poder
e não de ser na estética de pensar com liberdade
Dias obscuros
O homem do poder na sua força superior estúpida
De teres e haveres
Bota pra fuder
Escraviza amargura os filhos
Robotiza a mulher
Critica os valores humanistas
Não sente o fascínio da arte nem os nobres ideais
Quando algo de estético consegue é
Tirar meleca do nariz.

ZAHIA 54

Eloqüência
Da a alguns homens o poder de sedução
Hipocrisia
Dissolve a beleza
Ofusca sentimentos
Assim vivem a debater ente se
Quem a utiliza
Em seu favor ego centrista
Loucos
São aqueles que a usam em vão.

LIBERDADE PARA O CAOS 55

Castro castraram-nos

Caro amigo Castro
A praça já não é mais do poeta
O céu encontra-se poluído as nuvens negras
Nos impedem de ver a lua
Nas ruas não ressoa o verso suave da poesia
Ouve-se agora o pranto de metralhadoras
Estrondeantes rajadas rasgam o silencio
Assassinam o condor
Cantam o amor de forma medíocre
Não se fala em espumas flutuantes
Grandes navios negreiros
Tornaram-se fabricas
O chicote relógio de ponto
A mordaça
Tropas de choque com suas bombas de gás
As correntes
Cadeias superlotadas
O vinho a taverna
Crak e periferia
Caro amigo Castro ser poeta hoje em dia
É clamar e nada mais
Castro
Caro
amigo
Alves
Alvejado
Em mares remotos
Navego espero ancoras
Pesam as correntes
Sem podas... poder ou pudor
Negra mãe amamenta
Num delírio
Poesia.

ZAHIA 56

O poeta em si
Esteve desistindo de existir
O poeta em si
Não agüenta mais cair
O poeta em si
Foi impedido de sonhar
Embargado de trabalhar
O poeta em si
Agora quer bater não suporta mais apanhar
O poeta em si
Coitado
Foi obrigado
A ficar
Calado

LIBERDADE PARA O CAOS 57

O ultimo beijo da noite

Ontem vi a noite invadir meu corpo
Por não tê-la visto a tanto tempo
Não resistir
Bibi
Amei
Corri
Cansei
Dormi
Hoje após tê-la visto coberta pela aurora
Desfiz do rosto que troquei por pensamentos
Fingindo não ser quem sou
Andei sem fronteiras
Como um fúnebre submarino com destino ao abismo
O mar era as ruas que foram trafegadas por procissões e enterros
O erro foi ter beijado só à noite
A noite me caiu sobre os ombros me obrigando a fugir
A fuga não foi para longe foi para perto
Como se fosse possível fugir do coração
permanecer nos poros
Prelúdio
Insuportável falta de limites
Agora
A aurora se foi
Deixando
Deixando
Como se fosse sonho
O que vivi com vocês.

LIBERDADE PARA O CAOS 58

O revés de uma mágoa

Acredite nas sugestões do inconsciente
Vidas foram feitas pra amar
Amemo-nos por favor
Já não se suporta mais estar só
Colhendo calos em vagas
Caminhadas pro infinito
Andando em cordas bambas sobre abismos
Não se pode mais sorrir
Quero vê-la sóbria sobre a montanha dos desejos
Tal qual equilibrista sobre fios
A vida proporcionou-me você
Inesquecíveis
Emoções
quero agora
a felicidade que transites mesmo estando ausente
as descrenças afastaram-nos um pouco
não
não esconda de mim seu olhar
será que não vês que precisamos nos amar
pra que as estrelas voltem a brilhar no firmamento
lembre de quando chorávamos
lavando nossas mágoas
suas lagrimas rolavam sobre meu peito
fingia não me ouvir quando dizia que a amava
nos amávamos sorrindo durante horas
ate que o sol despertasse nos afugentando
volte e seja a lady que outrora foi.

LIBERDADE PARA O CAOS 59

Vazio
Sem aranha dentro do jarro
À arranhar consciência
Uma teia armou-se
No preto da tela
Na pintura do quarto
Na parede do quadro
Invejosos olhos segam como o beato sem fé
Na catedral dos mulatos
No pais do carnaval
Mulatas cabelos passados ferro
Abrem seus xibíos
Param para procriarem
a espécie
verde amarela neurodegenerativa
não desejas fortuna sucesso
deseja viver de volta
críticos de arte
miram com certa indiferença.

ZAHIA 60

Descubra por que o rio corre
Lembra
Daquele dia
Estar só
Sem amigos
Sem sexo
Sem identidade
Sem cabeça
Sem nada
Apontado por outros
Como uma pessoa estanha
Deus parecia esta ausente
Ato poesia
Conhecendo este instante
Poderá sentir
Mais
Se um dia
Achar que entende
Esqueça
Não podemos entender
O silencio
Podemos apenas ouvi-lo.

LIBERDADE PARA O CAOS 61

Ser poeta
Pura loucura
Fala filosofando
Agi com precisão
Pensa libertário
Anda com precaução
Ler o amanhecer
Canta como quem chora
Chora como quem canta
Ama o desapego
Sorri livre
Morre a todo instante
Vive sobre vive naturalmente
Continua
Sorrindo
Sofrendo
Amando
Morrendo
Cantando
Vivendo
Ate o fim
Ate o fim
Ate o fim.

ZAHIA 62

Da cultura inanimada por Monteiro Lobato

Ser saci
Sei por onde andas
Jogas capoeira com uma perna só
Vive na mata
Não fumas na lata
Não
Não és o bicho
Que fusa o lixo
Em busca da pânica
Brita
Pedra que constrói casas inabitáveis
Ser saci
Em seu cachimbo
Vês nossa amiga
Dona Caipora
Desnortear caçador
Ser saci
Teu gorro nos guarda
Do crak
E de outras besteiras.

LIBERDADE PARA O CAOS 63

Bebendo com a morte
Etílicas noites de luar
Encontrar-se sozinho
Desprezadamente livre
Ser unitário
Abandonado
Em seu nobre altar
Olha em volta
O que vê
Só inimigos
Olha pra dentro
Conhece perigos
Esta lá
O tempo todo eras
Mostro fera ou donzela
Dragão ou
cavaleiro
Anseios aflições
Coragem medo
Falações segredos
Doença cura
Alegria desespero
Serviram uma aguardente
Olha pra frente

ZAHIA 64

Entende orvalho de escuridão no meio do dia
Etilicamente vencido
O anjo com quem tem bebido
Cutelo azulado consigo traz
Vestimenta preta
Rosto ósseo
Sorri
Esclarecem-se as coisas
Descobre com a morte bebes.
Sóbria embriagues
...e ela embriagou-me
Como se fosse fantoche
Manipulando minhas atitudes
Meus gestos
Minhas fortunas e pobrezas
Meus ataques e defesas
Acabando com a fórmula
Do encontrar
Nem tudo e irreal
Quando se esta embriagado
Cada dose
Cada gole
Cada efeito produzido
Por um gesto não entendido
E um movimento indeciso.

LIBERDADE PARA O CAOS 65

Única verdade
Escreveu o professor na lousa do bilhar
Seja livre ame absolutamente a vida
e quando decidir morrer
faça
por prazer
e saiu cambaleando com seu terno de dor.

ZAHIA 66

Filha da papoula

Perdido nos acalantos
Daquela linda mulher
Branquinha
Cheiro forte
No prazer nada deixa a desejar
Excitação
Vem procurar
Eloqüente enlouquecida
Fértil
Quente
Eufórica
Estéril
Vem procurar
Despida de pudores
Como a brisa da
manhã
Poros a penetrar
Entrega
Corre
Voa
Grita
Não podes escutar
Filha da papola nos poros a penetrar

LIBERDADE PARA O CAOS 67

Toda droga mata
As licitas matam lentamente
As ilícitas
Quando não matam
Alguém te mata
Por causa delas

ZAHIA 68

Quem é o ladrão
Quem tem calo na mão
Ou quem desvia a verba da educação
Quem é marginal
Quem escreve poesia no jornal
Ou quem devia dinheiro do hospital
Quem é mais safado
Quem deve e não paga ao funcionário
Ou quem vota em político ótario
E antes que me esqueça
Não adianta pedir minha cabeça
????????

ZAHIA 69

Soneto da inveja
Vê se tira os zoi de riba deu
A fé se faz a todo instante
Proteste corra atrás do que é seu
Oi não corrompa o ato auto falante
Não não me roube a liberdade
Quando lhe deixei bem à vontade
Vosmesse injurias sobre mim teceu
Tramou armou tirou o que era meu
Oi não houve complicações
Você se perde em sua ilusões
Quem se julga vencedor não venceu
A profecia do que foi ainda é
Não se cria razão pra ter fé
O tudo o nada também é deus

LIBERDADE PARA O CAOS 70

Fé por uma questão de ordem

Eis ai a energia natalina
A virtude lembra fraternidade
O espírito da amizade
Nasci a estrela matutina
Vai no coração da mãe Maria
o toque do anjo Gabriel
acende-se uma nova luz no céu
o ar faz amor com a poesia
filho nasce de virgem ventre
trás pro amor luz infinita
a vida sente-se abraçada
a criança espera presente
SE a esperança vem na marmita
e a fé não se torna uma piada.

ZAHIA 71

Ontem, último dia do ano
O amor sorrio riso de bom dia
A alegria e lida da vida
Trabalho pra problema é saída
O cansaço transpassa nostalgia
A noite equilibra à tarde
Vespertino sol a pino
A menina abraça o menino
Na calçada conversa de comadre
O calor marcou setembro
Desaguando cambueiros
Pueirões derradeiros
Trovoadas em novembro
Pinga gotas de alegria
Rega a terra com poesia.

LIBERDADE PARA O CAOS 72

Nunca antes havia lido sonetos
Me deliciado no aroma doçura
Versos bons se vão contra a censura
Canta Camões dois quartetos dois tercetos.
Nunca antes havia me arriscado
Dar tempo ao tempo, estruturado,
Nunca com um soneto sonhado
Bocage, Pessoa ouso cantar.
Ó quanto, quanto é bom poder ler
Ver no soneto imagens nascer
Criar, publicar sobre o amor,
Quanto infinita é a rima
Nos atrai afeto feito ímã
Todo prazer da maçã e da flor.

LIBERDADE PARA O CAOS 73

Essa língua portuguesa

A língua faz uso da linguagem
Podendo essa nos fala único tom
Assim vai criando nova roupagem
Que ao pé do ouvido é tão bom
És linda língua agigantada
Proporciona ampla compreensão
Não importa o sotaque da moçada
Ou o dialeto do povo do sertão
O lastro vivo que ti sustenta
É a pronuncia límpida clara
Escrita enxuta culta
O vasto que ti cabe nos sustenta
A nós permite experiência rara
Saudade palavra absoluta.

ZAHIA 74

Essa língua faladeira

Sei que o fogo lhe vem ao rabo
Ó ferina língua faladeira
Teces intrigas vans rasteiras
Vê se vai encher o saco do diabo
Deixa minha vida língua alcoviteira
Vai pra função limpar o chão
Faz teu papel abana poeira
Outro castigo lhe caia na mão
Um tição ou ferro em brasa
Venha te queimar mofina língua
Pra tu mudar arrogante tom
É bom saber o bem não atrasa
Inflamações te de íngua
Só pra tu aprender o que é bom.

LIBERDADE PARA O CAOS 75

Passageiro

Penso,o que em mim é cobiça
Procuro perceber
Será vou padecer
Na matéria não propicia
Nunca vi maior colosso
Que se guarde por porreta
Pois mortalha não tem bolso
Nem caixão tem gaveta
Fazendo aqui uso
Do dialeto popular
Falo do conhecimento
Não vos deixa confuso
Sei posso me apropriar
Eterno és firmamento.

ZAHIA 76

Remédio ante-depressivo
Toco na roça é que nem rancor
Remorso amor mal resolvido
Encrava tira da vida a cor
Ele entristece o colorido
Aqui na roça toco se tira
E é na base da enxadeta
Onde a vida amor transpira
Mãos grossas cabo de picareta
Planta faz ir pra frente rega o chão
Semeia olha a chuva grãos nutrição
Homens somos esteio estrutura
Cubramo-nos do brilho matinal
Jogar fora essa amarra esse mal
Ferida em si sempre cura.

LIBERDADE PARA O CAOS 77

A bola poética
A bola bole com a cabeça do homem
O homem com os pés bole na bola
Berros de dor
Desespero
Alegria
Ao ver a bola na rede
E o grito de gooooooool
Festa festejo apologia
Faz a prole sofrida
Esquecer o prato vazio
Que na mesa é horror
Apesar de não politizar
Vibra-se com a mola na rede
E o grito de goooooooool

LIBERDADE PARA O CAOS 78

O estranho
Não usa cabelo,
Não anda pela rua
Camisa aberta
O estranho não é o cara
Que não conhecemos
O estranho nos observa
Por trás
Da
Porta.

ZAHIA 79

ODE AO VERBO FALAR.
(...nem todo vazio esvaziou-se, tornando-se vadio,
nem todo fuzil percurso será do cio das revoluções.
Há quem leu camões, tal qual, há em você uma vontade de me sentir dentro de ti...)
Isaias Andrade. maio de 2010

OLÁ
TUDO BEM?
BOA NOITE
BOM DIA
BOA TARDE
BOA NOITE
COMO VAI?
SENHOR
SENHORA
SENHORITA
DESCULPEM
ESSE
MEU
PERFIL
ESTRANHO
MAS
NÃO
TENHAM
PENA
EU SOU ASSIM
EU SOU ASSIM MESMO
DESDE NASCENÇA
ESTRANHO
É SERIO
JÁ NASCI ASSIM
FEIO FEITO CHAMINÉ DE CERÂMICA
AS VEZES CABISBAIXO
FADADO A CARREGAR
ESSE ENORME BÓGO
DEPENDURADO
NO PESCOÇO
COM ESTE BURACO
NO MEIO DA TESTA
AINDA MUITO CRIANÇA
MEU PAI DECIDIU ME FAZER UMA CIRÚRGICA PLÁSTICA
PRA MELHORAR MINHA APARÊNCIA
O MEDICO DA FAMÍLIA
ME FEZ UMA CIRCUNCISÃO
FIQUEI COM A CABEÇA AO RELENTO DESTE JEITO
AH...
VOCÊ TÁ RINDO
É POR QUE NÃO FOI COM VOCÊ
MAS
ATE AI TUDO BEM
O RUIM MESMO
ERAM OS APELIDOS
NO VESTIÁRIO DO FUTEBOL
NO BANHEIRO DA ESCOLA
A MOLECADA ME CHAMAVA DE TUDO QUANTO ERA NOME
SALSICHÃO
CABEÇA RACHADA
PESCOÇO DE EMA
SEM JUÍZO...
MAIS TARDE
NA ADOLESCÊNCIA
COMEÇOU ME CRESCER
UNS PELOS NOS PÉS
E ERA DURO VIVER DURO O TEMPO TODO
FOI QUANDO VEIO A PRIMEIRA NAMORADA
ELA ERA LINDA
NÃO SEI PORQUE TODO MUNDO CHAMAVA ELA DE ARANHA
MEU
APELIDO CARINHOSO PRA ELA ERA
LINDA PERIQUITINHA
AH
COMO ERA DOCE
QUERO DIZER COMO ERA DÓCIL
A LINDA PERIQUITINHA
Ô... SAUDADE
Ê... SAUDADE
Ô...SAUDADE
MAS
A MAMÃE DELA SE MUDOU PARA SÃO PAULO
E LEVOU ELA JUNTO
E... EU FIQUEI SÓ NA LEMBRANÇA.

LIBERDADE PARA O CAOS 80

Enamorados pela Vida
Poetas declamam
Por quês da convivência
O abraço é o arrocho
Que cativa
A fecundidade de um amor profundo.
Noite
Ggatinhas ficam salientes
Seus perfumes
Rebolados
São mais
Quente
Sorrisos afagam
A vida
Olhares chamam pra cama.

ZAHIA 81
Acolhe-me
No orvalho de teu ventre
Guia-me
Sobre sedosa pele de teu corpo
Leva-me
Estase
Brilho de lua nova
Refletido em teus olhos
Porem
Ame-me
Apenas por esta noite.

LIBERDADE PARA O CAOS 81

A solidão apavora
Varias anjinhas circundam
Quanta dor
Esta mudo
Amar
Cantar e só
A poesia
Comprime se
Tentando caber
Em minha
Cabeça.

ZAHIA 82

Em quantas noites de lua
Vejo
Vivo
Verbo
Verso arder
Tua imagem
Seminua
Faz–me erétil
Tu tão dócil
Tão selvagem
Louca em minha lucidez
Deita sobre meu peito
Amemo-nos outra vez.

LIBERDADE PARA O CAOS 83

Vento frio
Medo da chuva
Seus olhos
Vidrados nos meus
Cada gesto
Cada afeto
Seus lábios
Lambem
Lembram
Viver sem você
Acompanha solidão.

ZAHIA 84

Rever palavra excluída
Repatriar verbete felicidade
Alcançar equilíbrio
Através de sono temeroso
Abre as ouças
O som da viola viola com violência
Problemas de convivência
Ate quando tua usura te impede de ser onesto
Compaixão é fortaleza pro justo e um falso amigo é um
prato indigesto
Fica calada
Garante silêncio fazendo barulho
Afinal como dizem os sábios
Grande peixe só se deixa pescar
‘Mode fome do pescador’
E há coisas que não devemos falar.

LIBERDADE PARA O CAOS 85

Cuma é que vais casar
Vais casar
Cuma é
Se não tens
Uma cuié
Pra dá comida
A muié
E a muié o que qué se não arranja uma cuié.

ZAHIA 86

Caloroso sorriso a morte me ofereceu
Gesto mal
Você
Cometeu
Dor
Deflora as cores do arco-íres
Mulheres ainda sonham em casar

LIBERDADE PARA O CAOS 87
Há momentos da vida
Em que precisamos ser paredes
Pra entendermos
Vem ventania
Portas sem trancas
Costumam bater
Pelo simples fato de serem portas...

ZAHIA 88

Indispensáveis
Poetas
Pintores
Palhaços
Bailarinas
Músicos
Cineastas
Fotógrafos
Autores
Atrizes
Atores
À voz
Ouro
Respeito
Carinho
Paixão
Artistas médicos das almas
Organismos
Favorecem
Amor
Afagam
Vidas com sorrisos
Cicatrizam pra sempre feridas
Da guerra.

LIBERDADE PARA O CAOS 89

Ardem pedras paradas
No pingo do meio dia
Nas margens lixos lembram
Descasos no ocaso de algum dia
Minam lagrimas
Olhos sertanejos
Lavam a poeira do sertão
Cruzado descruzado
Por rios secos.

ZAHIA 90

Chega de terceirização
É preciso
Estado
Fazer a obra
Com a própria mão
Garantir a mão de obra
Trabalho
Salário
O povo ainda não optou
Por arma não.

LIBERDADE PARA O CAOS 91

A liberdade priva-se
Limitada a calçadas
O povo não a vê na rua
Toca corneta... acorda
Soldado
Ser importante
Importa amor
Exporta caráter
Ser livre
É esclarecer ao defensor publico
Dupla cobrança em uma única causa
É crime.

ZAHIA 92

A saúde
Brasileira
Submetida
À senha
Perde
A vida
Pra
Morte
Na
Fila
Pra UTI
Morre
Jovem
Favelado
Enquanto
Um
Rico
Dopado
Ocupa
Inconsciente
Fútil
Terapia.

LIBERDADE PARA O CAOS 93

Tangendo
Vermelha
Jumenta
Monark
Rumo
Saúde
Caldeirão
Caldeirão
Saúde
Salto
Notável
Cobra
D’água
Verde
Imaginar-se-ia
Cobra
Se
Não vistes
Sob a ponte
Da várzea
Imenso
Rio das pedras.

ZAHIA 94

Nem só pedra,
Encontra-se no caminho.
Pedra se remove
Driblar os buracos
Às vezes é mais difícil.

LIBERDADE PARA O CAOS 95

Esse chão tão ser
Molhado com sangue inocente
Precisa voltar a ser tão
Sadio
São
Capaz de em noites de velórios
Cantar-se piadas
Sobre os passos
Dos inocentes
Que lá vão
Ter seus passos
Enterrados
No Coração de Maria.

ZAHIA 96

Olho
Boca que come tudo
Olhares mudos
Tagarelas
Cegos
Sinceros
Invisíveis
Sensíveis
Verdes
Negros
Azuis
Olhar para sempre
Cortante feito veneno de serpente
Olhar de afeto
Prazer
Desejo
Tesão
Olhar de medo
Nojo
Desgosto
Inveja
Traição
Olhar ferrado
Entre
O gozo
O amor
E a solidão
Olhar.

LIBERDADE PARA O CAOS 97

Solfejar de poesia
Em cada verso rimado
Em cada palavra indecisa
Em cada beneficio
E vida sofrida
Em cada puro olhar
De dor
Paixão
Alegria
Não importa se é luz ou escuridão
Ainda é dia
Choremos por devoção
Oremos por anarquia
Brinquemos com a solidão
Vivamos no dia a dia
O solfejar da poesia.

ZAHIA 98

Deus não gosta de ótario
E ótario não gosta de poesia
Não seja otario
Veja
Há poesia?

LIBERDADE PARA O CAOS 99

Canto primeiro aos inúteis

Que beiço de jegue não é arroz doce
Todo mundo ta cansado de saber
O que pouco se fala e daí não se sabe é
O que fazem por um punhado de saber
Seu saber ta disponível
Como contornar a extensão da burrice com criações, toques
geniais
Quando ouso algo que emociona vivo arte
Quando sou presença
Cotidiano
Vivo determinada cultura
Se não me preocupa a fome mundial
Evitáveis catástrofes ambientais
E a insistência da industria bélica
em patrocinar a guerra
sinto-me frustrado
Se caminho, vejo, vivo,
Compartilho poesia
Levo saudades e trago lembrança
Sou útil a existência
Daqueles com quem convivo
Se calo o que absorvo e consumo sem retribuir
Sou um verme.

ZAHIA 100

Na décima página do livro do tempo
Faz-se escrita de nossas vidas
Frustrações superadas
Fortalecem nossos entes
Querida
O passo a dar adiante
Encalha se no ar há teimosia.

LIBERDADE PARA O CAOS 101

Samba desafinado

o carro do lixo
vai passando lá fora
aqui dentro alguém chora
um samba canção

todo amor que te dei
voce jogou fora
meu samba gravado num papel de pão
agora pro lixo
seu samba canção

o carro do lixo
vai passando lá fora
aqui dentro alguém chora
um samba canção

todo amor que te dei
voce jogou fora
meu samba gravado num papel de pão
agora tragado pelo homem bicho
de novo pro lixo
seu samba canção
num papel de pão


ZAHIA 102

Uma balada raulseixista.

Amor seu riso é tão só
só cheira cigarro e sabão em pó
Amor seu riso é tão só
só cheira cigarro e sabão em pó

seu preço é criar efizema
aquele riso forçado, alfazema
seu preço é criar efizema
aquele riso forçado, alfazema

edema
da noite lilás
olho roxo
por amor de outro rapaz
agora
seu riso forçado
procurando valor la no bar do mercado

amor seu gozo é tão só
só cheira cigarro e sabão em póóó.

Um comentário:

comente...sem medo.